ASTRONOMIA EM SÃO PAULO
Numa época em que a Poluição Luminosa (P.L.) não atrapalhava o céu da cidade de São Paulo, o astrônomo amador e engenheiro José Nunes Belfort de Mattos teve a brilhante ideia de instalar ao lado de sua residência um observatório astronômico, a 815 metros de altura do nível do mar, na Avenida Paulista.
Mattos foi durante décadas o Chefe do Serviço Meteorológico e Astronômico do Estado de São Paulo, e se dedicava aos estudos astronômicos, sismológicos e meteorológicos, como à medição da hora oficial do estado de São Paulo.
Nesta época o Serviço Meteorológico tinha seus serviços dispersos em vários pontos da capital e sem instalações adequadas. A parte técnica estava instalada em cima do terraço do Colégio Normal na Praça da República (Atual Secretaria da Educação de São Paulo), um local totalmente inadequado para a finalidade científica desde 1892.
José Nunes Belfort de Mattos sabia que o maior problema era a falta de verbas para um novo local, mesmo com o novo local abrigando todos os serviços burocráticos, diminuindo os custos. Era sua intenção, na verdade, organizar um Observatório Meteorológico, complementado com uma Seção ou Departamento de Astronomia.
No início do século passado, ao se fazer a escolha do local para a construção do Observatório de São Paulo, levaram em consideração a existência de um Posto Meteorológico, que funcionava desde 1902, ao lado da residência do Sr. José Nunes Belfort Mattos, que era um dos responsáveis pela “Comissão do Observatório”.
O engenheiro havia construído sua casa na Avenida Paulista em 1901 e lá foi morar em 1902.
A Avenida Paulista agora era o novo ponto da cidade, onde a aristocracia paulistana, a elite e os barões do café ostentavam a nobreza e o luxo. A Avenida com 2,8 km de extensão e a sua região rapidamente super valorizou no início do século XX.
Porém, em algumas notícias de jornais da época especulavam que o Observatório Meteorológico tinha ido para a Avenida Paulista porque o Estado não iria precisar pagar aluguel com alguns dos equipamentos alocados na residência do Sr. José Mattos, no número 71 da Avenida Paulista.
Um imponente edifício com quase 20 metros de altura e com 3 andares começou a ser construído no número 69 da Avenida Paulista, ao lado do Belvedere do Trianon e da casa do engenheiro, tendo como destaque a cúpula no alto, fornecida pela Casa Leduc de Paris.
A construção ficou a cargo da Diretoria de Obras Públicas (DOP) do Estado de São Paulo.
A Verba foi paga pela União, por conta de um Convênio de colaboração com o Serviço Meteorológico Federal. O primeiro equipamento do Observatório Astronômico na Avenida Paulista foi uma Luneta Barbou de 125 mm. Mas, seria logo atualizado com um telescópio refrator (luneta) equatorial de 175 mm de abertura e distância focal de 276 mm da fábrica Zeiss, encomendada pelo Governo do Estado de São Paulo. No terraço seriam instalados vários equipamentos, entre eles um Nefoscópio e um Nefómetro, equipamentos que examinam e avaliam o movimento, direção e a velocidade das nuvens.
Na parte de trás do imponente edifício ficavam os equipamentos de medição de temperaturas, umidade relativa do ar, pressão, velocidade do vento, direção do vento, temperatura do solo, precipitação e outros da Estação Meteorológica do Observatório de São Paulo que o “vizinho” José Mattos monitorava desde 1902, garantindo a continuidade da série temporal de dados do local, abrangendo o micro clima do Avenida Paulista. O próprio Diretor do Observatório podia monitorar tudo, dia e noite, com chuva ou Sol.
Oficialmente, um dos motivos para a sua localização é por estar a 815 metros de altura e “naquela época” distante do centro da cidade, a cerca de 3 Km da Praça da Sé e em ponto alto da cidade de São Paulo.
Em 1910, um Convênio com a União garantiu verba de 60 Contos de Reis a meteorologia paulista. Em contra partida, os paulistas deveriam enviar ao Observatório Nacional no Rio de Janeiro as folhas, registros, resumos de observações e os dados colhidos no Observatório de São Paulo e em mais dezenove postos da rede paulista, com algumas estações de monitoramento espalhadas pelo interior do estado.
O Observatório Nacional pagou de um só vez a verba e ainda doou ao Serviço Meteorológico de São Paulo vários equipamentos, sendo mais um impulso para a criação do Observatório Astronômico na Avenida Paulista.
Em 31 de janeiro de 1911, com a reorganização da Secretária da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo, a Seção Meteorológica da Diretoria da Agricultura se tornou autônoma, sendo agora denominada Serviço Meteorológico do Estado de São Paulo, um órgão independente dos demais órgãos públicos e José Nunes Belfort de Mattos continuou com a Direção do Observatório.
Numa época em que eram as luzes das estrelas que iluminavam a noite paulistana, foi inaugurado na tarde de 30 de abril de 1912, dois anos depois da passagem do cometa Halley, o Observatório Central do Estado, com a presença do Presidente do Estado de São Paulo (Governador) Albuquerque Lins, do Vice-Presidente da República, Fernando Prestes; de Washington Luiz; Altino Arantes e outros políticos e celebridades de renome no cenário científico e político nacional.
O Observatório estava localizado em um local muito privilegiado por causa da altitude e no centro da elite paulistana, ao lado do glamour dos casarões da Avenida Paulista, no ponto denominado de Terraço da Bela Vista e ao lado do Belvedere do Trianon. Na região também existia, ao lado um Belvedere, um Mirante que proporcionava a vista de todo o Vale do Anhangabaú. Tudo isto desapareceu com a construção do Museu do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP).
Em pouco mais de dois anos o notável desenvolvimento dos serviços meteorológicos do Observatório da Avenida Paulista era elogiado em matéria do jornal Estado de São Paulo de 15 de julho de 1914.
A rede de monitoramento cresceu para 55 postos, com novas estações meteorológicas e a reinstalação das estações de Cunha, Jaboticabal e São José do Rio Preto (Rio Preto). Uma estação de monitoramento chegou até a ser instalada no extremo noroeste do estado, em Três Lagoas, naquela época no estado do Mato Grosso.
O Observatório da Avenida Paulista foi um exemplo do desenvolvimento que o Estado de São Paulo experimentava no período, com esforços científicos voltados para o progresso agrícola, principalmente da cultura do café. O instável clima da cidade de São Paulo e o rápido crescimento da Avenida Paulista transformou a região no final da década de 1920, num ambiente inadequado para as observações astronômicas. José Nunes Belfort de Mattos foi o Diretor do Observatório de São Paulo de 1902 a 28 de junho de 1926, a data de seu falecimento com 64 anos de idade.
Como um bom astrônomo amador, ele colocava a família para fazer observações do céu na rua, na Avenida Paulista. Foi assim que eles observaram o Cometa Halley em 1910. José Nunes Belfort Mattos também foi professor de Matemática, Astronomia e Mecânica, durante 10 anos, no colégio Anglo-Brasileiro, que era um dos mais importantes colégios de São Paulo. Por muitos anos, o cientista participou efetivamente da Sociedade Cientifica de São Paulo. Foi um cientista que publicou muito e era requisitado por jornalistas nas intempéries do clima e em fenômenos astronômicos e meteorológicos.
Muitas destas informações estão no livro “José Nunes Belfort Mattos – a vida de um cientista brasileiro” publicado em 1951, de autoria de Fabio Belfort, riquíssimo em detalhes com toda a obra de Belfort Mattos.
O Observatório da Avenida Paulista funcionou por entre 1912 até 1928. José Nunes Belfort Mattos faleceu em 28 de julho de 1926, em São Paulo, fato que também deu início ao declínio do Observatório de São Paulo na Avenida Paulista.
Em 1927, o Observatório de São Paulo passou às mãos de Alípio Leme de Oliveira e, em 1932, iniciou-se a construção do Instituto Astronômico e Geofísico (IAG) de São Paulo, que terminou em 1941, com a inauguração no dia 24 de abril de 1941 do novo Observatório de São Paulo, agora localizado no Parque da Água Funda ou Parque do Estado, na zona sul da cidade e em uma área de mata nativa, e longe da Poluição Luminosa (P.L.) de São Paulo naquele tempo.
A nova Estação Meteorológica foi inaugurada mais cedo, em 1932. Ela encontra-se registrada junto à Organização Meteorológica Mundial sob o número 83004. Estas instalações tem sido praticamente as mesmas desde o início das atividades, na manhã de 22 de novembro de 1932. Em 1930, o jornal Estado de São Paulo publicou uma reportagem sobre os preparativos para a construção de um novo Observatório de São Paulo.
O local passou a ser também a sede do Instituto Astronômico e Geofísico (IAG) da Universidade de São Paulo. Após a transferência do IAG para a Cidade Universitária, o local passou a abrigar o Parque de Ciência e Tecnologia da USP (CienTec). Desde então, o local possui apelo turístico, com visitas e palestras para escolas e visitantes.
O Observatório da Avenida Paulista encerrou suas atividades em 1935, sendo o edifício demolido em 1957. O lindo Belvedere Trianon, projetado por Ramos de Azevedo havia sido demolido anos antes, em 1951, para dar lugar a um pavilhão, onde foi realizada a primeira Bienal Internacional de São Paulo em 1951. O terreno havia sido doado à prefeitura por Joaquim Eugênio de Lima, idealizador e o construtor da Avenida Paulista, com a condição de que a vista para o centro da cidade de São Paulo fosse preservada, através do vale da Avenida Nove de Julho. Isto é o motivo que o MASP tem um imenso vão.
No local onde se situava a casa de Belfort Mattos foi construído nos anos 1950, o Edifício Dumont-Adams, hoje localizado na Avenida Paulista, 1510, na esquina com a Rua Itupeva (atual Rua Professor Otávio Mendes, ao lado direito do MASP). O edifício Dumont-Adams com 10 andares e 54 metros de altura, com dois espaçosos apartamentos por andar logo tornou-se um marco na Avenida Paulista, sendo o único edifício do lado do MASP na época da construção do Museu.
A propriedade do Observatório foi absorvida pelo Estado de São Paulo e o prédio foi demolido em 1957 em seguida dando espaço a Rua Itupeva (atual Rua Professor Otávio Mendes, ao lado direito do MASP), quando integrou o projeto de ajardinamento do Belvedere Trianon com o novo Sistema Viário do Túnel da Avenida 9 de Julho. Caso olhe o MASP de frente, o prédio do Observatório estaria localizado na esquina direita do MASP, ao lado esquerdo do edifício Dumont-Adams.
Numa época em que eram as luzes das estrelas que iluminavam a noite, a Avenida Paulista abrigou o Observatório de São Paulo, inaugurado em 30 de abril de 1912 e observando o céu paulista por 24 anos.
Antes do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) respirar e observar Arte, o antigo local respirava e observava Ciência.
(Texto de autor desconhecido. O CASP agradece e oferece crédito autoral a quem assim indicar)
Comissão de Documentação e Acervo de Astronomia
O CASP mantém uma comissão de estudos, pesquisa e conservação de materiais e documentos que registram a história das práticas de Astronomia em São Paulo.
Ao lado, flagrante de uma reunião dos membros da União de Astrônomos Amadores de São Paulo, realizada nos anos 70. Boletins, revistas, fotografias, instrumentos e demais itens são fontes de conhecimento para as gerações futuras.
Doações e colaborações de materiais podem ser feitas enviando uma mensagem para contato@astrocasp.com
O Observatório do Brigadeiro
“(…) José Vieira Couto de Magalhães, nasceu na cidade de Diamantina, MG, no dia 1.º de novembro de 1837. Era filho do Capitão Antonio Carlos de Magalhães, português de nascimento e de Tereza Vieira do Couto, de origem paulista. Completou seus estudos primários no Colégio Caraça, em Minas Gerais. Obteve o grau de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1859. (…) Foi Presidente da Província de Goiás aos 25 anos, do Pará aos 27 anos; e de Mato Grosso aos 29 anos; vindo a ser Presidente da Província de São Paulo aos 52 anos de idade em 1889, alguns meses antes da Proclamação da República. (…)
Seu interesse pela astronomia é mencionado por Aureliano Leite em seu livro “O Brigadeiro Couto de Magalhães”, em que cita Afonso Celso comentando sobre a erudição de Couto de Magalhães: “Em 1862 consagrou-se à física e à mecânica. Quando em Londres, entregou-se ao estudo da física e da astronomia. Montou, mais tarde, um importante observatório astronômico em São Paulo, oferendo-o por fim, à Escola Politécnica”.¹o
O observatório do Brigadeiro, popularmente chamado de “Observatório da Ponte Grande”, é considerado o primeiro de São Paulo. Em informações não muito precisas, estima-se que o observatório tenha sido construído entre 1865/1870 e tenha sido demolido já no final da década de 1930.